26 de setembro de 2012

Somente o Amor

(por Linda Johnson, uma conversação com Sri Daya Mata, em Yoga Internacional, Julho-Agosto de 1992)

“Recordo-me de uma vez em que eu viajava pela Índia, sentada em um aeroporto, com um exemplar de Autobiografia de um Yogue em meu colo. Uma mulher aproximou-se e indagou:” “Sabe falar-me de Paramahansa Yogananda?” E eu respondi: “Sim, sei”. Ela perguntou: “Está relacionada com ele?” Eu disse: “Estou, sim”. Muito alvoroçada, ela se virou para sua amiga, bateu palmas e disse: “Sabe, ainda ontem eu dizia que daria, fosse o que fosse, se pudesse pelo menos encontrar alguém que tivesse conhecido Yogananda”. “Conto isso só para mostrar como a mensagem do Mestre tocou os corações de tanta gente”.

A mulher vivaz, de cabelos prateados, sentada ao meu lado, é Daya Mata, presidente da Self-Realization Fellowship desde 1955. Daya Mata, cujo nome em sânscrito significa “Mãe de Compaixão”, tem sido festejada por reis e marajás em suas raras aparições públicas, assistidas por milhares de pessoas, todas ansiosas por ouvi-la relatar suas experiências com seu Guru, Paramahansa Yogananda, um dos mestres de yoga mais queridos de nosso século.

Yogananda deu constituição de pessoa jurídica a Self-Realization Fellowship em 1935. A associação tem 370 centros em todo o mundo, uma comunidade monástica de 135 residentes na Sede Internacional localizada na periferia de Los Angeles, e centenas de milhares de seguidores leigos. A maioria de seus membros aderiu a Self-Realization Fellowship depois de ler Autobiografia de um Yogue, obra clássica em espiritualidade, de autoria de Yogananda, onde ele relata as histórias de alguns dos maiores mestres da Índia, inclusive de sua própria, e notável linhagem de gurus.

Ao tempo da Guerra Civil Americana, um empregado ferroviário, Lahiri Mahasaya, tirou um dia de folga para perambular pelo monte Drongiri, no sopé do Himalaia. Ali encontrou Babaji, um yogue que o iniciou em uma técnica especial de meditação, denominada Kriya Yoga. Anos mais tarde, Sri Yukteswar, de austero caráter, discípulo de Lahiri, profundamente interessado pela cultura ocidental, decidiu enviar um “embaixador de yoga” aos Estados Unidos. Escolheu Yogananda, professor de uma escola local para meninos, iniciado em Kriya.

Não poderia ter escolhido melhor emissário. Nos Estados Unidos reinava quase completa ignorância a respeito de yoga e de meditação, quando Yogananda chegou a Boston, em 1920. Expositor genial da yoga em termos científicos, Yogananda fez-se, por isso, compreensível aos seus ouvintes ocidentais. Ao mesmo tempo, sua impressionante veneração pelo Cristo e sua afirmação de que o próprio Jesus afinal tinha sido um yogue, acalmou o desassossego de muitos cristãos que temiam trair sua fé se adotassem aquela nova prática de meditação. Abertas ao público, as palestras de Yogananda atraíram milhares e seus livros inspiraram milhões.

Quarenta anos após sua morte, a obra de Paramahansa Yogananda continua a transformar vidas. Por exemplo, faz alguns anos, o maior pugilista da Romênia achou um volume contrabandeado de Autobiografia de um Yogue. Consciente de que não poderia aprender mais sobre yoga, a não ser que fugisse para o Ocidente, decidiu vencer todas as 16 lutas contra os maiores pugilistas da URSS, de modo a comparecer às rodadas do campeonato mundial de Boxe na América do Norte. Ele relatou: “Ninguém conseguiu me vencer. Eu lutava por Deus. Jesus e os gurus estavam nos meus punhos”. Ele desertou no Canadá, renunciou a todas as formas de violência e rumou direto para a sede internacional da Self-Realization Fellowship, onde aprendeu Kriya Yoga. Após a queda do regime comunista, ele regressou à Romênia para levar a mensagem de Yogananda, de desenvolvimento interior, à Europa, Austrália e América. Filiados ou não à Self, estudantes de yoga, em grande número, afirmam que se interessaram por meditação, pela primeira vez, depois de lerem Autobiografia de um Yogue. 

Sentada junto à Daya Mata na linda sede internacional da Self-Realization Fellowship em Mount Washington, eu esperava aprender mais dessa mulher, representante de Kriya Yoga há mais de 35 anos, e sobre sua relação com seu lendário guru.